quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Floresta de Isaque #02: Irmãos Matsu

As férias de Natsuno estavam sendo um tédio. Fazia praticamente dois meses que não caçava, e seu único meio de diversão — a escola — começaria apenas daqui uns meses, já que, por algum motivo desconhecido, as aulas no colégio Martins teriam início, esse ano, apenas em abril. O lado bom era que estava longe da senhorita Abigail, a inspetora rabugenta do colégio. Mas o lado ruim era pior: não havia diversão sem o Joe ou o Jake, os amigos que fizera no ano anterior — um deles era vampiro, mas Natsuno o investigou por alguns dias e chegou à conclusão que era um vampiro do bem, se é que isso existia.



João e Jussara, seus novos e irritantes parceiros de caça, moravam em Firen, então não podia chamá-los para jogar videogame, ou um passeio ao shopping, embora Natsuno preferisse mesmo a ação. Gostava de caçar, e estava louco para uma aventura de verdade. Desde que se juntara aos gêmeos, haviam apenas caçado alguns poucos vampiros-zumbis pela floresta sul da cidade, e eles não eram exatamente o tipo de inimigos que divertiam. Os verdadeiros contratempos estavam na zona urbana da cidade, entre os becos e vielas de Honorário, um território que Natsuno não podia entrar por ser apenas um Aprendiz de Caçador. Precisava de algo mais emocionante, mais perigoso, afinal, fazia parte do clã Kogori, o Clã do Relâmpago.

Mas seus dias estavam sendo resumidos em tédio. Tentou imaginar o que seus "colegas de trabalho" estavam fazendo em plena segunda-feira de um janeiro parado como aquele.

~ CH ~

— Se comportem, vocês dois — Giovani Matsu disse mais uma vez, junto à porta e com uma mochila nas costas.

— Tá, já sabemos — João, que tinha cabelos loiros penteados para o lado, disse impaciente. — Nós não somos mais crianças, Giovani, nos comportamos muito bem.

— Fora o fato de você arrumar encrenca com os vizinhos quase todos os dias, né pirralho?

— Eu vou cuidar dele — Jussara assegurou, com seu sorriso gentil. — Prometo.

— Vindo de você, posso ficar mais tranquilo — Giovani também sorriu, e passou a mão sobre a cabeça da irmã. Jussara tinha cabelos loiros com um rabo de cavalo trançado descendo por suas costas. Apesar de gêmea de João, era alguns centímetros mais alta que ele, fato que João odiava.

— E você se cuida — ela disse, preocupada. — Volta pra casa bem, ok?

Giovani assentiu, e partiu. Para mais uma missão de infiltração na tribo inimiga.

— Que tédio — João disse jogando-se no sofá. — Bem que podíamos caçar, né?

— Sem o Natsuno? Você sabe que não podemos. E além do mais, não há nenhum caso de morte pelo sul de Honorário.

— Quem falou em Honorário? Eu estou falando de caçarmos aqui mesmo, no Mundo Paralelo. Pena que...

De repente, João ficou de pé. A julgar por sua expressão, Jussara sabia que ele estava pensando em algo.

— No que você está pensando, mano?

— Mana, tive uma ideia. Que tal... — ele a olhou animado — fazermos uma visitinha à organização Ko-Ketsu? Podemos pedir uma missão para o Tony Kido.

— Para o Tony Kido? Maninho, eu não acho que ele nos daria uma missão da organização. Nem somos caçadores oficiais ainda. Somos aprendizes, lembra?

— Ju, eu ouvi dizer que o Tony Kido libera algumas missões pequenas para caçadores novos como nós. Não custa tentar.

— Não sei não...

— Ah, você é sempre medrosa!

— Não é medo, eu só fico um pouco preocupada. Não somos tão fortes como você pensa, e se algo acontecer a você, eu nunca vou me perdoar.

João revirou os olhos, pois sua irmã sempre o tratava como o caçula indefeso. Ele era sim meio irresponsável, e meio desleixado — e ok, até um pouco mais baixo , mas isso não significava que ela era mais velha. A diferença de idade entre os dois era apenas de alguns minutos.

— É a nossa chance, maninha. Vai me dizer que você também não está entediada? Por que eu não aguento mais ficar parado.

Jussara não queria aceitar, mas o olhar tristonho do irmão era tão suplicante que sabia que ele insistiria até ela aceitar. O conhecia muito bem.

— Ok, você venceu. Vamos à organização.

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