quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Floresta de Isaque #01: Kogori piedoso

Os caçadores desciam suas espadas com fúria e cortavam os inúmeros seres que pareciam fazer parte da escuridão da floresta, cujos olhos escarlates cintilavam em ódio e pavor. Hebert Kogori era ágil e desferia inúmeras rasteiras e chutes laterais incrementados de sua lâmina de fio único. Tony, por sua vez, utilizava seus punhos fechados com extrema força, fazendo-o faiscar a cada ataque, derrubando hordas de vampiros de uma só vez. Gefrey partia vampiros e troncos com sua espada de lâmina larga, com uma brutalidade assustadora, e Helen torcia pescoços com a facilidade com que respirava, deixando o trabalho de deperizar suas vítimas para os demais agentes que também combatiam o enxame de vampiros comuns e evoluídos.



Estavam na Floresta de Isaque, onde ocorrências misteriosas andavam chamando a atenção. Ficava não muito longe de Firen, mas era um local de difícil acesso, e como as vilas vizinhas relataram casos de desaparecimento por aquela região, Tony decidiu montar seu esquadrão e ir investigar pessoalmente.

E encontraram vampiros. Dezenas deles. Moravam em palhoças de galhos e palha e tinham uma grande fonte de alimentação que era um amontoado de corpos humanos mortos recentemente.

— Esses malditos, mereciam muito mais que isso! — bradou Gefrey enquanto cortava mais alguns vampiros, partindo-os e os transformando em areia.

— Não acho que seria possível — comentou Helen sem parar de lutar. — Existe algo pior que morrer?

Todos os agentes trajavam o uniforme da organização, alternando apenas a cor do colete. Além do Tony, poucos dos quinze caçadores do esquadrão vestiam os coletes, botas e luvas vermelhos. Hebert e Helen usavam o roxo do clã Kogori e Gefrey vestia laranja. Dois agentes vestiam marrom, três eram verdes, um era branco, um era amarelo e os outros quatro eram vermelhos como Tony, embora não pertencessem ao Clã do Fogo. Apenas não faziam parte de algum tipo de patamar superior.

A espada de Gefrey cortou mais um tronco sem a devida intenção, e a árvore caiu em cima dos quatro vampiros evoluídos que Hebert estava enfrentando; o Kogori salvou-se por pouco, dando um pulo para trás.

— Obrigado, Gefrey. Eu sei que você me ama.

— Claro que amo.

O massacre continuou e, aos poucos, os pares de brilho carmesim iam extinguindo, sinal que a maioria dos vampiros já havia se tornado areia. Na batalha, seis das sete palhoças haviam sido destruídas, e finalmente a nuvem liberou uma lua que iluminou vagamente a clareira da batalha; havia corpos inconscientes de vampiros pelo chão e muita — mas muita — areia.

— Já matamos quase cem — observou Hebert, sem tirar o foco dos inimigos, fazendo sua espada dançar em suas mãos enquanto desferia seus chutes brilhantes e fatais; atingiu um chute lateral no inimigo que estava à sua frente ao mesmo tempo em que cortava outros dois que tinham a intenção de lhe surpreender por trás.

Inocentes.

Hebert tinha uma visão apurada da batalha, nunca era acertado por simples evoluídos — até que avistou um supremo, escondido entre alguns troncos, apenas observando o massacre com seus olhos avermelhados.

— Realmente — concordou Tony, apunhalando um vampiro no estômago e mandando-o a vários metros no ar. — Mas alguns acabaram fugindo. Não podíamos ter deixado isso acontecer. Fomos irresponsáveis.

— Quem liga para alguns vampirinhos quando estamos matando dezenas deles? — Gefrey disse mal humorado, fazendo questão de contrariar o Kido.

— As próximas vitimas, provavelmente — replicou Tony, mas mantinha-se calmo. Alguns vampiros tentaram fugir, mas Tony puxou sua corrente prateada e saltou na direção deles com extrema agilidade, transformando a corrente na lendária Ko-Kyuketsuki ainda no ar e desferindo um único golpe que cortou os quatro sujeitos, que imediatamente viraram pó. Tony aterrissou dando uma cambalhota para frente e respirou fundo.

— Estou ficando velho.

Os demais agentes derrotaram os últimos vampiros e Tony observou um Hebert que lutava com seu adversário enquanto olhava para outro ponto fixo. Ele poderia facilmente derrotar o vampiro, que desferia inúteis golpes com garras afiadas, mas parecia preocupado com outra coisa.

— Hebert, o que você está fazendo?

Hebert enfiou sua espada no peito do vampiro e disse:

— Venham comigo.

Tony fez sinal para alguns agentes ficarem na clareira e, com os demais, seguiu o Kogori pela floresta. Avançaram por entre alguns troncos e Tony perguntou:

— O que você viu?

— Vampiro supremo.

Hebert acelerou os passos, deixando os demais para trás. Ninguém era apto a acompanhá-lo. Hebert era conhecido como o agente mais veloz da organização. Não tinha quem o vencia numa corrida.

O vampiro seguia desesperado pisando na grama alta e desviando facilmente dos arbustos. Hebert não poderia deixá-lo fugir, estava quase o alcançando, faltava pouco. Mas e se fosse uma armadilha? Não importava. Precisava detê-lo.

Acelerou mais ainda a corrida, fazendo com que suas pernas formigassem com tamanho poder usado, e sua velocidade aumentou de forma surpreendente, deixando Tony e os outros agentes ainda mais distantes. Quando estava perto o suficiente, Hebert atacou:

— Soco relâmpago!

E um flash dourado de raios dançantes atingiram as costas do inimigo, fazendo-o se desequilibrar e cair. Ele fez menção de se levantar, mas a ponta da lâmina em sua garganta dizia que era melhor não se mover. Hebert segurava a espada, e tinha uma expressão séria.

— Aonde pensa que vai, aberração?

Tony e os outros chegaram até os dois, e Gefrey disse, com um sorriso maldoso:

— Um supremo, hã?

O sujeito era robusto e tinha a pele pálida. Seus olhos vermelhos transmitiam o mais puro ódio que Hebert podia imaginar. Era uma criatura terrivelmente feia.

Que logo começou a fazer cena:

— P-por favor, não me mate. Eu... eu tenho uma família.

— Corrigindo: tinha uma família —  debochou Gefrey. — Nós matamos os seus irmãozinhos. Todos eles.

— Não, eles não são do meu bando. Eu tenho mesmo uma família. Eu tenho um filho.

Tony olhou para Hebert e percebeu que o amigo estava, de fato, ponderando. O vampiro estava dizendo a verdade? Até onde sabia, vampiros supremos realmente tinham sentimentos. Tony não conhecera nenhum que fosse bom, mas seu pai já havia dito que fora salvo uma vez por um deles.

— Mate-o logo! — Gefrey disse impaciente. — Não vai acreditar nesse maldito, vai?

— Gefrey tem razão, Hebert — falou Helen pela primeira vez. — Você caça há décadas. Deveria saber que não podemos ter piedade desses... assassinos.

O vampiro a encarou e, por um momento, seu olhar de súplica tornou-se enraivecido, o suficiente para Hebert confirmar que o vampiro queria enganá-lo.

— Não vou cair nessa. Sinto muito.

O vampiro rosnou furioso, sabendo que aquele seria o seu fim, mas um uivo poderoso ecoou pela floresta, atraindo a atenção dos agentes. O vampiro aproveitou a oportunidade para chutar a lâmina e correr, e Hebert até fez menção de ir atrás, mas Tony gritou:

— Hebert, não!

Hebert parou. Encarou o amigo por um segundo, então notou que não só ele estava preocupado, como todos os outros agentes.

— Temos companhia — disse Tony, sacando novamente sua espada.

— E eles não parecem muito felizes com a nossa presença — inseriu Gefrey, sério, olhando em volta. — Eu pensei que isso era apenas uma lenda.

Lobos pretos aproximavam-se do grupo de modo traiçoeiro, e todos prepararam suas espadas. Hebert queria perseguir o vampiro supremo, mas por ora tinha assuntos mais importantes para tratar. Precisavam sair daquela enrascada primeiro.

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